MURALHAS EXISTENCIAIS E OS RELACIONAMENTOS
Um dia vi uma interpretação interessante sobre a queda da
"muralha de Jericó”, aquela história
bíblica de Josué e seus guerreiros na
conquista da terra de Canaã, e até conquistá-la eles tiveram que destruir várias cidades, e dentre elas, Jericó, uma cidade fortemente cercada por uma
muralha e muito bem feita onde sua espessura era de 4 metros e tinha 10 metros de altura.
Era uma noite, e eu estava vendo uma novela
que não lembro qual o nome, mas lembro da cena, eu era pequenina ainda, e meu divertimento era
ficar no colo da minha mãe enquanto ela via novela, e nesse dia a cena da novela era a de um casal que estava brigado, e tanto o homem como a mulher não queriam mais dormir
abraçadinhos na cama e por isso colocaram a “muralha de Jericó” no meio da
cama dividindo-a ao meio, ele de um lado, ela do outro e assim foi por dias e
dias os dois afirmando que “ as muralhas de Jericó os afastavam. Eu estava atenta
a esse fato que me chamou atenção, e me
perguntei pq eles estavam brigando na cama, divididos na cama se eles estavam
ali pertinho um do outro e o desejo deles era ter um ao outro? Os dias se passaram e o casal certa noite
cansou de brigar e fizeram as pazes após grande conflito no quarto e
resolveram destruir a “muralha de Jericó”
que os dividiam. Fora do quarto se “ouvia” os gritos de felicidade
do casal e o povo da casa que acompanhava a briga do casal, de longe gritaram de alegria dizendo “ as muralhas de Jericó vieram abaixo!” e fizeram a festa. Eu me despertei para essa frase “as muralhas
de Jericó vieram abaixo”, como assim? Eu já tinha ouvido a história de Josué na
Bíblia e sabia como ela tinha acontecido, mas o que tinha isso a ver com a
briga de um casal? O tempo passou e eu a cada dia buscava entender o ocorrido:
Jericó era uma cidade rica e dentro das muralhas tinha muitos tesouros, e todos
que moravam lá eram inimigos de Josué, eram o “impedimento” para alcançar a tão
sonhada promessa de entrar numa cidade onde
“manava leite e mel”, e portanto Jericó tinha que ser destruída. E Josué a
destruiu, derrubou as muralhas, não com luta, mas com o canto, com sons, com reflexão,
com paciência e espera: a espera perfeita, 7 dias, todos os dias ele rodeava a cidade e no último dia Deus destruiu as muralhas. Daí parei pra pensar: quantas “muralhas de Jericó” nos escondem de quem quer nos conquistar? Mas
somos fortes o suficiente para destruir nossas próprias muralhas? Somos
guerreiros o suficiente para poder nos libertar e assim deixar-nos libertar até
que cheguemos até a “terra prometida”?
Bem, continuando a interpretação, o que faz um
homem ou uma mulher pra que e tenham a
felicidade alcançada ao lado de quem ama ao longo de sua vida? Quantas
muralhas terão que derrubar, conquistar? Seria uma conquista
se ele ou ela não tivessem toda
essa paciência, espera, canto e tentativa de aproximação todos os dias como fez Josué diante da muralha diante do tempo perfeito? Jericó foi
conquistada por Josué quando ele fez as muralhas caírem, após isso ele pode
destruir seus inimigos e assim continuar sua missão de chegar a
terra prometida
Muitos de nós
desejamos logo conquistar os tesouros, destruir os inimigos de nossa
felicidade, porém as muralhas existem exatamente para aprendermos a valorizar
os tesouros que queremos conquistar, nenhuma conquista tem valor se não for
trabalhada e lutada como quem luta pela própria vida. Muitas pessoas tem “muralhas
existenciais” e isso não é nenhum defeito humano, elas existem para a proteção
do que está do lado de dentro da
muralha. Quem for forte o suficiente, sábio o suficiente, paciente o suficiente
e souber encantar com seus sons certamente conquistará e fará as muralhas do
relacionamento caírem e assim prosseguirem juntos até a felicidade, se assim
realmente desejarem.
Cada pessoa é única, cada muralha é única, cada luta singular; e cada guerreiro terá que ser um sábio, um filósofo se quiser conquistar a "felicidade.
Cada pessoa é única, cada muralha é única, cada luta singular; e cada guerreiro terá que ser um sábio, um filósofo se quiser conquistar a "felicidade.
Texto de Sandra Sucupira
Filósofa, professora e escritora.