DELÍRIO FEMININO
É meio platônico olharmos para este mundo e sentir que
ele não tem ouvidos, não tem coração e nem visão... talvez mentes voltadas
para o seu próprio íntimo criando corações que sentem apenas o seu eu humano,
talvez... Quando olho para trás e vejo todo sofrimento humano eu me aquieto e
encolho o coração de uma forma que eu me conformo com todas as coisas que ainda
possa acontecer...nada... ou tudo..., e quando olho para as pessoas
que fazem os outros sofrerem nesta vida, sem ver o que realmente estão fazendo
eu não consigo sentir nada por elas, sinto pelos que sofrem, pois vejo que
deixam marcas e elas nos transformam naquilo que somos hoje, ... ou
não. E o que mais poderia fazer alguém sofrer se não olhar para as marcas da
vida de alguém e dizer que as marcas não são nada?.... Não, eu não
acredito neste mundo que vejo; eu apenas o ouço e o respeito com
boa mente e com a decisão de quem já sofreu tanto nele e aprendeu que, ser
pessoa é ser inconstância, e digo: a inconstância não merece
confiança.
Minhas companhias são minhas emoções e sentimentos,
todos eles; eles me fazem sentir o meu "eu sozinho", amigo de mim
mesma: amor, ódio, alegria, nojo, indignação, alegria, desilusão,
otimismo...paciência; eles sim são verdadeiros, pois eles são o que sobra
depois de tudo.
Eu gostaria de não precisar dizer nada, de não falar
nada e que eu fosse entendida sem precisar dizer alguma coisa, nenhuma só
palavra, mas isso não existe, e estou tão cansada de me esforçar em dizer alguma coisa; talvez o tempo sim me sirva de palavras, talvez ele diga algo por
mim, ele é o que tem de mais verdadeiro nisso tudo, o tempo é quem fala,
mostra...."o tempo"...; mas com ele vem o fim de todas as
coisas, ele nos leva ao fim de tudo, pois somos tempo, e quem sabe com ele
venha a oportunidade de ainda sermos felizes nele, em algum tempo, ou hoje, ou
amanhã... ou nunca! Talvez.
Não acredito tanto assim no que vejo. Se alguém me mostrasse esse
mundo que vejo como algo constante, confiável, talvez eu voltasse atrás, talvez
eu dissesse que eu estou errada, só sei que nele estão todos
nós em busca sempre de alguma coisa, estão sempre mudando, sempre em busca de
algo que ainda querem conquistar e que por isso podem mudar a qualquer tempo e
a qualquer instante, e não é bom nos agarrarmos a coisas
inconstantes, corremos sempre o risco de ficarmos no meio do
caminho, pois a inconstância nos tirou do foco onde por força do coração
colocamos o nosso melhor e dedicamos o que melhor tínhamos...ou temos, ou
pensamos que temos...sei lá!
Descobri que a solidão é algo bom, ela não muda nunca, ela
está sempre ali com a gente, ela não nos trás novidades, ela não nos magoa, ela
não nos faz sofrer, ela está sempre quieta, ela está sempre pronta a nos
entender, a ouvir nosso coração, a ouvir ainda as palavras que existem no
silêncio de nossa mente, e ai nos tornamos platônicos, intensamente
egoistas!....
Posso ser livre na solidão, neste caminho calmo que não me trás
nada de mais, não me abandona no meio do caminho ele está sempre comigo.
Escrevo isso agora em um dos raros momentos de palavras que me restam, palavras
vindas de uma alma que já viu muito do que não queria ver e que acreditava, já
viu muitas coisas que fazem uma pessoa sofrer, e eu não quero mais ver,
quero ver agora apenas aquilo que a própria arte de viver a
vida trás, e eu só aceito esta visão que me vem de forma natural não imposto
pela inconstância humana e sim apenas pela arte de se manter vivo e viver
naturalmente.
O tempo é engraçado, não é? Faz-nos ficarmos bobos e falamos
bobagens, escrevemos palavras não muito justas de serem escritas, mas, quem comete algum crime na solidão dos pensamentos? O único crime que cometemos na solidão é o próprio crime de estarmos egoísticamente sós, pois na mente somos lívres, e não devemos colocar em arguilhões nossa propria liberdade. E quem
neste mundo é maduro o suficiente para reprovar estas palavras, ou
alcançou a perfeição humana e descobriu os segredos da vida? Ninguém!
Hoje
queria que o tempo parasse um pouco... parasse para eu dançar uma música
com alguém.... alguém que não me falasse nenhuma palavra e dialogasse com meu
silêncio, seria o maior presente que a vida pudesse dar a alguém que está só e em
silêncio, pois NADA, ultrapassaria seu significado num momento de ser ouvida [...]
Por alguns instantes eu parei de escrever, agora, ouvindo uma música, e
fiquei imaginando a dança... e vejo, em minha mente lívre, ....alguém que não tem rosto, e ele
dança comigo esta música, eu em um lindo vestido brilhante todo cheio de
pedrinhas brilhantes, um vestido lindo como se eu tivesse numa linda festa de
debutantes e eu debutasse a vida, sozinha nesta festa com este alguém sem
rosto... alguém sem rosto, que não me fala nada, e só dança comigo como se ainda
restasse a magia de viver... Acho que esta é a imagem de minha alma... assim
quero terminar de escrever..."dançando com a minha alma"..... eu, comigo mesma...